A sexualidade é um indicador de qualidade de vida e, no entanto, é um tema ainda pouco abordado pois a mulher não costuma apresentar queixa sexual de forma espontânea. Na maioria das vezes, apenas ao ser questionada durante a consulta ginecológica, a paciente descreve a disfunção que a incomoda e a respectiva repercussão em sua vida e na vida do casal.
Eventualmente, as mulheres podem ter pouco ou nenhum desejo sexual inicial, mas quando estimuladas, respondem ao estímulo que desencadeia a excitação e o prazer que, podem ou não incluir o orgasmo, mas levam a uma experiência recompensadora do ponto de vista físico e emocional (desejo reativo).
A disfunção sexual pode ser primária (quando ocorre desde o início da vida sexual), secundária (adquirida após atividade sexual satisfatória), generalizada (quando é presente em qualquer parceria ou circunstância) ou situacional (apenas em determinadas situações e/ou determinada parceria).
Os fatores que desencadeiam a disfunção sexual feminina podem ter diversas causas como depressão, estresse, doenças crônicas, infecções genitais, histórico de abuso sexual, insatisfação com a parceria ou com a relação.
É critério para definir a presença de disfunção sexual a persistência de pelo menos seis meses de sintomatologia gerando sofrimento ou frustração para a paciente.
Cabe ao médico legitimar o prazer sexual da mulher, esclarecer mitos, tabus e preconceitos para amenizar parte dos problemas sexuais femininos, assim como diagnosticar, orientar e propor o tratamento necessário para melhorar a qualidade de vida da paciente.
As queixas mais comuns em consultório são:
Desejo Sexual Hipoativo
Uma das queixas mais frequentes entre as mulheres. Caracteriza-se por uma diminuição ou ausência de desejo em iniciar ou manter atividades de interesse sexual, portanto, não se restringe apenas ao ato sexual, mas em um desinteresse geral e, geralmente, progressivo, que inclui o relacionamento e algumas vezes também a prática masturbatória.
Dispareunia
Dispareunia é a dor genital sentida durante ou logo após a atividades sexuais. Embora também possa afetar os homens, é relativamente mais comum nas mulheres.
Pode ser classificada de duas formas: superficial (quando a dor ou o desconforto ocorrem na vulva, na entrada da vagina, na abertura da uretra ou no clitóris) ou profunda (quando há a presença de dor pélvica, geralmente associada a penetração).
Pode se manifestar em diferentes intensidades, desde um desconforto até dores agudas e vai levando a um progressivo desinteresse em iniciar atividades de interesse sexual pois, inevitavelmente, a dor começa ser associada a estas ocasiões.
As causas de dispareunia são diversas e podem estar relacionadas tanto com causas físicas como causas psicológicas e emocionais. Dentre as causas físicas mais comuns, estão as infecções na vulva ou vagina, como candidíase, herpes genital, tricomoníase, endometriose, estreitamento vaginal e falta de lubrificação (muito comum no climatério, menopausa e no pós parto). Já entre as causas emocionais e psicológicas, estão o diagnóstico de depressão e ansiedade, uma educação rígida e opressora, experiências passadas traumáticas como abuso ou relações sem nenhum prazer, onde o sexo era condicionado apenas para satisfazer o homem.
O tratamento é individualizado de acordo com a causa da dispareunia e pode incluir tanto o uso de medicamentos como orientação e terapia.
Vaginismo
No vaginismo ocorrem contrações involuntárias dos músculos da parede vaginal no momento da penetração, apesar da mulher expressar desejo de ser penetrada, tornando a penetração dolorosa ou inviável por causa da dor. Em alguns casos pode afetar até mesmo a masturbação pois essas contrações podem ser desencadeadas até mesmo com o toque genital.
Importante ressaltar que o vaginismo se trata de uma disfunção, não de uma doença, e que possui tratamento.